“Aparece a cada cem anos um mestre da canção num país / Aparece a cada cem anos um / E a cada vinte e cinco um aprendiz“. O verso lançado por Gilberto Gil na inédita Gilbertos, canção escolhida para o encerramento de econômico Gilbertos Samba (2014), funciona como um indicativo claro da homenagem proposta pelo cantor e compositora baiano a uma de suas principais referências criativas, o pai da bossa nova e conterrâneo João Gilberto. De essência minimalista, como uma extensão ainda mais precisa de tudo aquilo que o músico havia testado durante o lançamento do antecessor Concerto de Cordas e Máquinas de Ritmo (2012), o trabalho que conta com produção de Moreno Veloso e Bem Gil costura passado e presente de forma particular. São fragmentos de vozes que se espalham em meio a melodias acústicas, estímulo para a lenta inserção das batidas detalhadas por Domenico Lancellotti.
Dentro desse cenário marcado pela economia dos arranjos, Gil e seus parceiros de estúdio vão de marcos fundamentais da bossa nova, como em Desafinado e Doralice, a versões repaginadas de preciosidades como Desde Que o Samba É Samba e a instrumental Um Abraço No João. Exemplo disso está no novo tratamento dado ao clássico Eu Vim da Bahia. Da limpidez do violão ao inusitado uso de referências eletrônicas na montagem da percussão, cada elemento parece regido pelos detalhes, conceito que se reflete durante toda a execução da obra. Completo pela presença de nomes como Dori Caymmi, Pedro Sá e Rodrigo Amarante, Gilbertos Samba ganharia no mesmo ano uma delicada versão ao vivo, transportando para os palcos a mesma leveza sussurrada no trabalho em estúdio.
Este texto faz parte da nossa lista com Os 100 Melhores Discos Brasileiros dos Anos 2010 que será publicada ao longo das próximas semanas. São revisões curtas ou críticas reescritas de alguns dos trabalhos apresentados ao público na última década.
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